14 de agosto de 2010

A casa inacabada

a partir de notas sobre "A poética do espaço" de Bachelard
          O olhar fala e escuta. E passa a ser a casa onde se habita. E para onde a gente for, leva junto a casa. Linguagem: casa em que habita o homem, que faz homem lugar de homem. Assim, o homem se integra e se entrega ao chamado que ecoa pela casa, mesmo sem compreendê-lo totalmente. Assim, a casa-cidadela, refúgio e construção do eu, abre-se para a cidade e seu povo, e aceita seus despojos.
          Bachelard destaca a “casa que a imaginação converteu no próprio centro de um ciclone”, e alerta para a necessidade de superar as meras impressões de conforto que sentimos em qualquer abrigo. “É preciso participar do drama cósmico enfrentado pela casa que luta”, diz ele. Nenhuma casa está acabada, nenhuma casa é segura, nenhuma casa termina em seus muros. A casa é mais que “um canto pra morar”. Quando em repouso, a casa é um ângulo, que necessita ser quebrado logo em seguida para se fazer ver como figura.
          Encontrar a concha inicial em toda moradia: essa a tarefa básica de quem escreve. 
A Casa da Flor é obra de arquitetura e escultura de seu Gabriel dos Santos, nascido em 1893, filho de ex-escravo e trabalhador nas salinas de São Pedro d’Aldeia. Montada durante décadas, pelo acúmulo de restos, no dizer do autor “coisinhas de nada” – búzios, conchas e outros depósitos da lagoa, detritos industriais, pedaços de azulejos e faróis de automóveis – a construção, ainda nas palavras de Gabriel, é uma “casa feita de caco transformado em flor”. (www.inepac.rj.gov.br)

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