21 de agosto de 2010

Sobre o ritmo da prosa

Marjorie Boulton           
          Discussões sobre realces e tonicidades fazem parte do rol de temas de um estudante ou de um critico que esteja tentando ser objetivo. Que isso não nos faça crer que tradutores cuidadosos ou prosadores possuidores de grande sentido de ritmo coloquem-se diante de um parágrafo inacabado e pensem, “eu acho que é hora de um tipo “x” de recurso para tornar esta frase mais leve, ainda que deva terminar com um monossílabo tônico, ou então não conseguirei dar o tom definitivo que pretendo...” É difícil dizer como os bons escritores adquirem o hábito do bom ritmo. Certamente ele se está atento ao ritmo da prosa que escreve.
           É provável, no entanto, que grandes criadores de prosas memoráveis e individuais tenham sido dirigidos por um tipo de pressão interior, dificilmente sentido explicitamente no momento mesmo da escrita, assim como os ritmos da poesia parecem vir à cabeça de modo quase espontâneo. Possivelmente tenham alguma relação com as sensações físicas associadas com emoções fortes – a freqüência respiratória, o batimento cardíaco, movimentos corporais frenéticos, ansiosos ou apáticos. Certamente não são trabalhados passo a passo com consciência e artifício; apenas o polimento final, a remoção de lapsos, é um processo consciente. Quando tentamos penetrar nestas questões maiores da natureza da criação artística, deparamo-nos com o problema de que a mente do artista, durante o processo, está muito ocupada com a compulsão imediata para se colocar no lugar do observador dos acontecimentos. Assim, todo nosso conhecimento de tal processo é fragmentário, uma coleção de reluzentes migalhas.

Nenhum comentário:

Postar um comentário