4 de novembro de 2010

Atentação

Zeca Carvalho
Ramon de Assis
         – Ô homi de Jesus! Isso é hora de chegá em casa? Não adianta me dá discurpa!!!!!!! Às 5 horas eu vi os homi tudo saindo lá do morro que já tinham  terminado de capiná.  E cadê ocê? Cheguei em casa correno, já lavei foi tanque de roupa, já fiz janta, botei os menino todo pra durmi e inté essa hora ocê num me chega em casa. O que cê tava fazendo? Sei, sei que cê tá cansado mas se tivesse cansado tinha vindo pra casa que é lugar de homi direito. Né não?
          E que embruio é esse? Pra mim? Gastou o dinheiro todim comprando besteira... aposto!
          Ara que reeeiva que mi dá quando cê bebe!!!... Pra quê cê bebe tanto homi de deuso? Sei, sei que cê qué me agradá... Intão paspacá qu’eu quero vê o que cê já fez com o dinheiro que era pra comprá os lápis dos minino. Cê num sabia que eles só tavam esperano cê recebê, ô Toinho? Sei... sei o que cê merece... Paspacá esse embrulho. O dinheiro num é seu não sinhô. O salário que recebo cê leva todo pra pagá a conta da venda. Eu que num guento mais essa vida não sinhô. Cansada tô eu!  É cansada docê, dessa vida miserávi... queria vê se eu bebesse todo o dinheiro...
          Por que cê não fala com os minino que cê bebeu os lápidicô deles?
         Janta procê? Num tem não! Quem bebe num tá com fome... Carma não sinhô! Um dia ainda largo ocês tudo e sumo daqui. Arranco o pé na estrada que cê nem vai ouvir falar de mim.
         Que cê trouxe aqui homi? ...Minha nossa senhora das virge! Pra que cê me comprou essas lingüiça toda? cê bebe e já perde a cabeça!... Devia fazer ocê dervorvê tudim lá na venda!
         Comê a lingüiça? Quero é nunca!... A janta que fiz já foi toda... Deixei os minino terminá tudim da janta procê aprendê a chegá cedo em casa!...
          Dá... Paspacá um pedaço disso que vou fritar procê no óleo das batata que inda tá no fogão... Mas homi... ocê tem que ter juízo nessa cabeça! Cê num é mais criança não!... Véio, véio... Cê num tem juízo não?
         Tón... tón tua lingüiça. Pega um pedaço de pão que é de hoji. Eu já ia dar pros pato amanhã... E num me olha torto que eu já disse qui hoje tô boa não.
         E a lingüiça? É da boa mermo? Cheirosa, ela é... Onde cê arrumou isso? Quanto cê pagô por ela?... Eu? Gostei foi nada... cê num pensa...!
          Mas cheiro bom ela tá... Isso a gente pode dizê. Ó de reiva que fiquei num comi foi nada inté agora... Esperano cê a noite toda! Aí... quase 10 da noite.... e ainda vô trabalhá procê... fritano lingüiça essa hora da noite... Isso tem cabimento?
          Sei... eu é que sei que deve tá gostosa. Quero é nada disso não sinhô.
          Nó! chega que tá pingando na mesa!
          Pra quê tô cortando mais? Pra ocê ficar cum dor na cabeça por comê uma hora dessas... Vê se pode!... Ai, como ela pinga toda!
          Pegando mais pão é?  Lá se vai os pão dos pato! É... o fogão ainda tá com chapa quente, deve de ser da reiva que passei pr’ele, si cê qué sabê...
          Vai... Vai... Paspacá essa coisa que eu vô cumê só pra não passá mal cum a barriga vazia... Lava lá os pé e esquenta logo aquela cama que tá gelada de frio.
          Hum... tava boa mermo essa lingüiça heim?... Nunca vi dessa aqui não... Vai que já tô ino... Tá bãããão... Demoro nada não... Ocê num tem mermo jeito... Ói, bóra pra cama bem divagar pra não acordar os menino... Cadê a tranca do quarto?
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